sexta-feira, 4 de março de 2011

QUANDO É OBRIGATÓRIO FALAR DE CRISE

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Foto: M. Jesus

O MOMENTO ACTUAL, A CRISE, OS CAMINHOS
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Um tema e o desnorte no caminho a seguir para o desenvolver. Do que falar concretamente?Sobre o que é a crise?... Sobre os caminhos para onde vamos?... Por onde vamos?
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Surge-me a ideia de que crise é uma linha contínua. Olho à minha volta e tento encontrá-la nos sinais do presente mas também nos vestígios do passado.
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O tempo flui. As ideias surgem, constantemente renovadas, a partir de correntes anteriormente encontradas, usadas até à exaustão, gastas, a pedir novidades. Vinda essa renovação, incipiente de início, depois ganhando segurança, e desactualizando-se à medida que o mundo e o homem no seu dialogar constante, se harmonizam ou desavêm.
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Todo o tempo é contínuidade, assim como todo o momento tem uma causa e vai ter um efeito. Crise é o momento de transição, quando o efeito pede uma solução ainda não encontrada. Mas, a pouco e pouco, a luz vai surgindo, fruto de algum cérebro iluminado, de alguma investigação aturada ou de um inesperado acontecimento. A ideia ganha volume, consistência. Estende-se a várias árias do saber e do fazer, determinando o estar. A crise passou, dando lugar a um període de relativa homogeneidade, que um dia se perderá nos caminhos do desgaste e diante de novos desafios…
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Mas, há ainda, as crises que nunca passam. As crises vividas a nível individual. Crise de quem nada tem nem consegue vir a ter, crise dos que nascem diferentes e gastam a vida a ultrapassar constantes obstáculos. Crise dos injustiçados e dos insatisfeitos. Crises que são dramas, não generalizados mas que são importantes. Sei que não é destas crises que deveria falar mas daquela diáriamente anunciada nos meios de comunicação e referida constantemente nos discursos dos polítiicos, gentes, para quem não há crises. Se a crise é dinheiro, são eles que o embolsam, sempre com a mesma impunidade. Compete-lhes encaminhar o rebanho pelo caminho que desejam e fazem-no guiando-o pelas veredas mais sinuosas, enquanto eles seguem por atalhos com caminhos bem mais fáceis, sem desvios nas suas rotas. Chegam sempre primeiro, poupados e impunes.
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Que solução? Não sou conhecedora de crises, só abordei em modestas temáticas académicas as que no passado foram fazendo história, abordagem, só para conhecer o percurso humano, não como preparação para envolvimento directo numa que pudesse vir a surgir. Assim, não saberei indicar qual o caminho. Penso ainda, que ninguém sabe ou seria muito fácil resolver o problema. Só se apontam soluções hipotéticas, necessitando de comprovação experimental.
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Por mim, olho e aguardo. Afinal, desde que me conheço sempre a crise me rodeou, sem ter muitas vezes a noção da sua existência.
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Nasci no ano em que a Segunda Guerra Mundial terminou. cessava então a crise bélica mas arrastava-se ainda, uma grave crise económica e social. Ao meu país, sem guerra directa, também chegaram os racionamentos e as faltas de alimentos, as lutas por liberdade, a repressão, o estagnamento das ideias, a surdez à evolução. Foi uma crise de consciências adormecidas e da repressão, para com aquelas que não dormindo, se reclamavam. Seguiu-se o destapar a panela cheia de vapor, por um lado aliviava a pressão, por outro extravasava conteúdos, motivando o vazio económico, o desemprego, a fome, o desengano. O tempo foi sarando feridas, foi repondo algumas verdades em prateleiras mais seguras, mas ciclicamente abanadas na falta de estabilidade e com o aparecimento desse velho inimigo chamado crise.
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Actualmente vivemos mais uma. Igual a tantas outras? Diferente? Um daqueles momentos históricos que vai determinar mudanças profundas? Porque de mudanças constantes e aceleradas vivemos hoje como nunca vivemos, se um momento de viragem estiver para se verificar terá que ser muito radical.
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Mas que forma esta de tratar um tema! Tenho a sensação final de que acabei por não falar de nada. Mas acreditem, disse tudo o que sobre o assunto saberia dizer. Ensinem-me mais! Aguardo as vossas palavras.
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03 de Fevereiro de 2011
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Maria de Jesus Pinto
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